14/07/2012

Carreira com asas (Londres #1)

Para a nossa viagem para Londres optámos pela companhia Ryanair (basicamente por ter o preço mais baixo para aquele período). E para quem já viajou com eles sabe que aquilo se assemelha a um autocarro voador: montes de gente com sacos de plástico, com malas de cabine maiores do que o devido, a falar muito alto, e achar muita graça a tudo.
Para minha tristeza, sentou-se uma dessas personagens ao meu lado (a Engenheira estava numa janela, portanto quem gramou a pastilha fui eu).
Já estava o avião composto, toda a gente sentada, e os comissário a ver se estava tudo em ordem. Do meu lado esquerdo, um lugar vazio. Claro que a felicidade não durou. Chegou um homenzinho de meia-idade a correr esbaforido, a dizer impropérios, e senta-se ao meu lado. Consigo trazia um saco de desporto, e o inevitável saco de plástico com um embrulho enorme. Como que por arte mágicas, consegue enfiar tudo debaixo do banco da frente. Nesta operação, já estava a falar comigo com a maior naturalidade: "esta merda é tipo autocarro! Só que pior! Mas é isso que safa um gajo! Se fosse noutra qualquer não me deixavam entrar com tanta tralha, mas aqui 'tão-se mais a cagar." E foi neste registo que o homem continuou... A VIAGEM TODA! Não se calou durante um segundo! Literalmente!
Claro que fiquei a saber a vida toda dele: trabalha no aeroporto de Heathrow como lava-pratos há já 9 anos. E não fala UMA palavra de inglês. Continuo a achar esse fenómeno formidável. Como é possível que viva num país diferente, com outra língua, e não aprenda NADA?! Mesmo morando numa espécie de comuna portuguesa, e trabalhando com portugueses? Mas por outro lado ele também não fica muito ralado que não o percebam. Ele fala na mesma! Tal como disse "se fossem franceses ou alemães, falava convosco na mesma!". Não duvido.
A dada altura apanha a conversa de outros passageiros "A Mártah?! A Mártah é uma pútah!". E o meu companheiro prenda-me com o seguinte comentário: "Hahahaha! Elas também são do norte! Falam como eu!" (elas, três jovens, eram o projecto de sopeironas).
Estava-me a mostrar cicatrizes de guerra, e a tatuagem dos comandos quando aterrámos.
Admito que ainda me ri um bocado com o sujeito (sim, falou comigo tanto tempo mas nunca se preocupou em dizer o nome), mas a verdade é que estava cansado, e foi um frete mais ou menos...
Seja como for, já estou acostumado. A pessoa mais chata de um grupo é SEMPRE comigo que vem ter... Essa é a minha sina...
Porquê?...

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